10/11/2023

Uma ferramenta online do Health and Safety Executive

A utilização de protetores auditivos é uma das práticas mais comuns, no que tange a implementação de medidas de controle, visando a proteção dos trabalhadores expostos a elevados níveis de pressão sonora, sendo largamente aplicada em diferentes empresas.
Efetivamente, é notório que a gestão de muitos dos Equipamentos de Proteção Individual – EPI é de difícil operacionalização, haja vista que o monitoramento de diversos fatores precisa de uma abordagem muito bem desenvolvida para que haja êxito, bem como o acompanhamento das evidências e rastreabilidade da eficácia da proteção auditiva selecionada pela empresa.
 
Sem esgotar o assunto, podemos citar como exemplos alguns parâmetros, como:
– Treinamento de uso, armazenamento e higienização do protetor auditivo;
– Registro de entrega e recebimento bem estabelecidos, com periodicidade de troca definida com base em critérios técnicos e de saúde auditiva;
– Procedimentos de uso em geral, com ciência de todos os empregados que fazem uso do protetor auditivo.
– Metodologia de seleção, que não considere apenas o valor monetário do EPI (o que infelizmente é muito comum), mas sim os critérios técnicos adotados, por exemplo, com base na Norma Brasileira – NBR 16077 “Equipamento de proteção individual – Protetores auditivos – Método de cálculo do nível de pressão sonora na orelha protegida”. Usando para isto o método longo, que considera a atenuação dos níveis de ruído em bandas de 1/1 oitava, usando como referência a subtração do nível de pressão sonora em cada uma das bandas pela respectiva atenuação do protetor auditivo para essa mesma frequência, descontado duas vezes o desvio padrão, o que confere uma confiabilidade de 98% no valor da atenuação. Outra solução é a adoção do método simples, por meio da aplicação do Nível de Redução de Ruído subject fit (subjetivo) – NRRsf, onde também é obtido um valor de atenuação, com confiabilidade de 84%, mas sem considerar as diferentes componentes de frequência, ou seja, neste caso considera-se um ambiente com níveis de pressão sonora iguais nas diferentes bandas de frequência, um padrão na acústica conhecido como “Ruído Rosa”, porém este cenário definitivamente não representa o que realmente acontece na maior parte dos ambientes industriais;
– Auditoria de uso, com evidência de registro e rastreabilidade com comprovação da ciência do empregado auditado;
– Ensaios de vedação do protetor auditivo (quando aplicável);
– Implementação do Programa de Conservação Auditiva – PCA.
É nítido como a gestão da proteção auditiva é desafiadora, pois exige um engajamento alto das empresas, através de diferentes áreas que vão além do próprio SESMT, bem como das consultorias de higiene ocupacional.
A omissão do uso do protetor auditivo é um dos problemas mais recorrentes nas empresas, pois é comum que os usuários não o utilizem por um determinado tempo, afetando consideravelmente a atenuação pretendida, levando assim a uma drástica redução do nível de redução do ruído estabelecido como recomendado.
A equação que estabelece o Nível de Pressão Sonora – NPS corrigido pelo tempo de omissão de uso é:

Por sua vez, a equação que estabelece o Nível Equivalente – NE é:

Vamos dar um exemplo prático de aplicação (evidente que simplificado para fins didáticos):
Assumindo que um trabalhador esteja exposto a dois níveis de pressão sonora durante uma jornada de trabalho de 8 horas, a saber: 105 dB(A) durante 3 horas e 92 dB(A) durante 5 horas.
Teremos o seguinte resultado para o nível equivalente:
Logo, o nível equivalente ao qual o trabalhador está exposto, adotando-se valores aproximados, é de 101,0 dB(A).
Assumindo um cenário onde este mesmo trabalhador utiliza um protetor auditivo que fornece uma atenuação de 25 dB, todavia, com uma omissão de uso de 1 hora durante a jornada de trabalho, teremos o seguinte nível de pressão sonora corrigido:
Assim, podemos ver como a redução da atenuação do protetor auditivo é substancial, mesmo considerando um curto período de omissão de uso. Caso o protetor auditivo fosse usado adequadamente, e selecionado dessa mesma forma, esperaríamos ter uma atenuação de 25 dB, ou seja, 101 dB(A) – 25 dB = 76,0 dB(A). Contudo, como o EPI deixou de ser usado por apenas 1 hora, o valor do nível de pressão sonora corrigido, que podemos entender como o nível equivalente corrigido, será de 92,0 dB(A), como fora dito trata-se de uma grande diferença.
 
Para facilitar este entendimento o Health and Safety Executive – HSE do Reino Unido (https://www.hse.gov.uk) desenvolveu uma ferramenta online que simula o decréscimo da atenuação do protetor auditivo correlacionado com o tempo de omissão de uso. Usando uma atenuação de referência de 25 dB é possível, através da mudança do tempo de omissão de uso, estimar qual será a real proteção fornecida pelo protetor auditivo considerando que o equipamento deveria ser usado por 60 minutos ininterruptos.
 
Através do gráfico de barras gerado é possível comparar a proteção nominal de 25 dB com o valor real baseado no tempo de omissão de uso inserido.
Vejamos um exemplo, considerando três cenários:
Gráfico A: tempo de omissão de uso de 10 minutos.
A proteção real será de 8 dB ao invés de 25 dB com um tempo de omissão de uso de apenas 10 minutos (17% do tempo, considerando um período total de uso de 60 minutos).
Gráfico B: tempo de omissão de uso de 30 minutos.
A proteção real será de 3 dB ao invés de 25 dB com um tempo de omissão de 30 minutos (50% do tempo, considerando um período total de uso de 60 minutos).
Gráfico C: sem nenhum tempo de omissão de uso durante a jornada laboral.

Considerando que não houve omissão de uso, bem como a correta seleção do tipo e tamanho do protetor auditivo, a proteção obtida é a mesma da esperada, ou seja, de 25 dB.
Portanto, podemos verificar como a conscientização, o treinamento e as auditorias de utilização do protetor auditivo são ações extremamente importantes para garantir a eficácia dessa medida de controle. É notório que muitas empresas ainda precisam amadurecer a gestão de higiene ocupacional para chegarem a um nível de desempenho satisfatório. Concomitantemente, não se trata de algo trivial, mas sim de um conjunto de medidas que precisam ser conduzidas e administradas de forma apropriada pelos profissionais de segurança e saúde ocupacional.
 
Para acessar a ferramenta desenvolvida pelo HSE acesse:
 
Sobre o Gustavo Rezende:
Higienista Ocupacional Certificado pela ABHO, colunista na revista da ABHO, Professor de Higiene Ocupacional na USP e na Revista Proteção, onde também atua como colunista no site da Revista Proteção. Membro da AIHA, ACGIH e do BOHS, onde atua como palestrante e colaborador da Revista The BOHS Exposure Magazine. Especialista em higiene ocupacional pela USP e Bacharel em Ciência e Tecnologia pela UFABC. Consultor técnico de higiene ocupacional em empresas de grande porte e de diferentes segmentos econômicos.
 
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